As resinas acrilo-melamínicas são comumente utilizadas como protetores de superfícies de automóveis e eletrodomésticos. Estas resinas apresentam grande resistência a agentes físicos (luz, abrasivos) e a agentes químicos (ácidos fracos e oxidantes), porém não apresentam apreciável resistência a agentes biológicos. Substâncias liberadas por ovos de insetos, fezes de pássaros, flores e frutas acabam danificando a resina. A baixa resistência das resinas acrilo-melamínicas a ácidos fortes já é conhecida há tempos, porém o fato destas resinas degradarem-se na presença de substâncias provenientes de seres vivos é um problema inteiramente novo.
Um dos agentes degradantes mais comuns a estas resinas são os ovos de libélula. Estes insetos aquáticos são atraídos pela luz polarizada proveniente da reflexão ocorrida na superfície dos automóveis. As libélulas confundem a superfície com um espelho d’água onde depositam seus ovos. Os ovos depositados na carroceria aquecida causam perda de brilho e furos na superfície da resina atingida.
Dois pesquisadores do Instituto de Química da USP-SP,
Etelvino Bechara e Cassius Estevani propuseram uma explicação para o fato de
ovos de libélula degradarem as resinas acrilo-melamínicas.
O processo de endurecimento da casca dos ovos de
libélula (esclerotização) ocorre pela polimerização da tirosina
por peróxido de hidrogênio (H2O2). Nas
temperaturas das carrocerias dos automóveis, o peróxido de hidrogênio pode
oxidar resíduos de cistina ou cisteína presentes na estrutura protéica dos ovos.
Esta oxidação produz ácidos sulfônicos que são mais fortes que o ácido
sulfúrico (H2SO4). Estes ácidos, por sua vez, participam
da hidrólise de ligações éster-amida presentes na resina e acabam degradando-a
e solubilizando-a .
Análises espectroscópicas foram utilizadas para
confirmação da hipótese. O processo de degradação da resina parece ser,
portanto, uma decorrência do processo de esclerotização dos ovos de libélula no
qual resíduos de aminoácidos acabam produzindo ácidos em determinadas
temperaturas e catalisam a reação de hidrólise das ligações formadoras das
resinas acrilo-melamínicas.
Referência:
“
Informativo-CRQ”, Ano 10, no 47, jan/fev 2001