A alquimia

 

            A alquimia foi uma atividade prática vivida no século XIII, que teve muita importância na descoberta de novas substâncias e processos químicos, como a extração do mercúrio, as fórmulas para preparar o vidro e o esmalte, bem como noções sobre ácidos e seus derivados.

            Além destes avanços, a alquimia representou valiosas contribuições para a medicina, com a conhecida iatroquímica, que se destinava à preparação de drogas para serem utilizadas em doenças. Neste contexto, o nome de Libavius merece destaque pois sua obra foi de grande utilidade para a área médica.

O saber oficial desdenhou a alquimia, por demais vinculada às práticas manuais. Além disso, os trabalhos geralmente eram envolvidos com segredos e os documentos eram de difícil leitura, o que  criava uma série de superstições e uma aura mística que prejudicava a avaliação objetiva das descobertas.

            A igreja denunciou o caráter herético das práticas alquímicas, finalmente proibidas por uma bula papal em 1317. A Inquisição controlava com freqüentes perseguições os infratores, muitas vezes condenados à fogueira, sob acusação de bruxaria.

            Não se pode negar a importância da alquimia no desenvolvimento das técnicas de laboratório, mas suas explicações teóricas eram antropomórficas. As substâncias inorgânicas eram vistas como seres vivos, compostos por corpo e alma. Como se acreditava que as características e propriedades de uma substância eram determinadas por seu espírito, havia a crença na transmutação, ou transferência do espírito de um metal nobre para a matéria de metais comuns. Isto contribuiu para a busca da “pedra filosofal”, com a qual qualquer substância poderia ser transformada em ouro. Houve também a busca pelo “elixir da vida eterna”. Estes mitos continuam presentes até a presente época, em diferentes contextos e são explorados em livros e filmes.

            A alquimia representou uma exceção à tradição medieval, pois apesar de suas interpretações ainda serem influenciadas pelo misticismo, introduziu a valorização das práticas manuais e da observação, tão desdenhadas na Idade Média.

            O legado da alquimia pode ser notado quando a química adquire contornos de ciência moderna e objetiva. As operações experimentais realizadas pelos alquimistas juntamente com os materiais utilizados foram mantidas não importando mais a forma subjetiva de interpretar os fenômenos.  

             

             

            A ciência:

            O conhecimento científico sistematizado é uma conquista recente da humanidade: tem apenas 300 anos e surgiu com a revolução galileana. Isto não significa que não existia um saber rigoroso antes desta data pois já na Grécia Antiga, era desejado separar o mito do saber comum.

            Sócrates preocupava-se com a definição dos conceitos para atingir a essência das coisas. Já Platão indicava que o conhecimento do sábio deveria partir da doxa (opinião) até à episteme (ciência). Mas a ciência grega ainda se encontrava vinculada à filosofia, da qual só se separa quando procura seu próprio método, o que vai ocorrer apenas na idade moderna.

            A ciência moderna nasce com a determinação de um objeto específico de estudo e de um método para realizar este estudo.

O saber comum difere-se do saber científico pelo seu nível de abstração. O saber científico é mais amplo, permitindo que se chegue a uma generalização de um determinado fenômeno. Os dados obtidos pelo saber científico são passíveis de relacionamento, de forma que a interpretação dos mesmos torna-se mais completa e esclarecedora.

            A objetividade é um dos itens que caracterizam a ciência. Assim, as interpretações feitas cientificamente devem ser possíveis de serem verificadas por qualquer outro cientista, em qualquer outro lugar do mundo, livrando-se deste modo, o papel emotivo que pode dar um caráter subjetivo à algum fenômeno.

            Para tornar a ciência objetiva e precisa, foi necessária a criação de uma linguagem rigorosa onde são evitadas as ambigüidades e a utilização da matemática começou a aparecer na transformação das qualidades em quantidades. A “matematização” iniciou-se com Galileu ao estabelecer uma relação entre espaço e tempo em sua “lei da queda de corpos”.

            A observação e a experimentação começam a ser fundamentos da ciência moderna. O uso de instrumentos e seu aperfeiçoamento mostrou a necessidade da realização de medidas, o que está intimamente ligado à matematização referida acima.

            Mesmo com todas estas características que tornam a ciência rigorosa, seu conhecimento não é infalível já que envolve modelos que se aproximam da realidade mas que podem ser abandonados ou melhorados.

            A forma de tratar a realidade pela ciência permite a previsibilidade de um determinado fenômeno, aumentando assim um maior poder na transformação da natureza pelo homem. Isto, por sua vez, impulsiona o desenvolvimento tecnológico que pode representar uma ajuda ou obstáculo para o próprio homem. De qualquer modo, não é possível um trabalho científico que procura o “saber pelo saber”, o cientista tem um dever social que não pode ser abdicado, ou estaria sendo um negligente com a própria humanidade.

 

            Referência:

            Filosofando”, M. L. Arruda; M. H. Pires, Editora Moderna, São Paulo, 1988, p 134-135